24.5.04

O Homem Implicado (1)

Quem é aquele que conduz terror (e, consequentemente, aterrado se conduz)?

*

Reduzidas as palavras a fórmulas, temos que há uma definição - altamente restritiva quanto altamente conveniente - em curso de terrorismo, primariamente inscrita numa visão total e totalizadora do 'real' enquanto terreno da oposição ideal Bem/Mal.

Procure-se porém contabilizar os meios de difusão (media) e a localização relativa dos seus centros de decisão e confronte-se a massificação de seus produtos mentais com as impossibilidades (sublinho@net) mães de possibilidades que talvez, afinal, se nos deparem escancaradas. Se enquanto pensamos em limitações do sistema político, jurídico e económico que acompanha o nosso devir social, questionamos e comunicamos, empreendem-se relações de sentido dificilmente apreensíveis pelos múltiplos mecanismos de controlo inerentes à supracitada moldura.

Muito longe de cair nessa outra clássica dicotomia indivíduo/sociedade, tão cara a certas fundações intelectuais, trata-se de sublinhar o universo de significações de que se dispõe na medida das portas abertas pela – incontornável como estas linhas dispensa-me de outros exemplos- globalização de modelos e abordagens mágicas e tecnológicas. Sabeis com certeza o que pretendo dizer bradando:

Coitadinhos?

O que quer que se afirme, tudo menos coitadinhos, Não-Nós e Nós
Laden dos Santos Zé Eduardo Fidel
Ou norte-coreano embaixador a cartel
Zapatero Duce Presidências de fel
Consta que é de sangue o principal papel.

Tão só recusar as leituras simplistas que encobrem o Sol enquanto se puder dizer que este quando nasce é para todos. ‘O Fim da História’ ou o ‘Choque de Civilizações’ são sem dúvida bons títulos para a volatilidade orquestrada de montras e escaparates vários, mas considerar nominalmente a falência/emergência do 'ismo' à mão de semear - sempre um esquema pródigo em alimentar-se de contradições - como indiciadora de uma ‘crise de valores’ (o que quer que isto seja) e por aí ficar não é senão um outro eco nasalado desse hegemónico ridículo que fere tímpanos indiscriminadamente.

A vida, felizmente, não é e se não sente a preto e branco.

Seria bom que os pregadores do costume usassem, por exemplo, o seu consumo à decidida semelhança da sua prosa e em consonância com ela. Comércio justo é um bom começo. E o mundo, claro, uma ONG.

*

Terrorismo é o que inspira a e é inspirado pela emoção terror num ciclo autofágico identificado e reconhecido nas sociedades humanas. Há-o português, iraquiano, americano ou chinês, maori, zande, ndembu ou zafimaniry: onde quer que seja, dói.

Estendamos as teias da sua abominação até ao limite de nós próprios, de nosso juízo, de nossos dias. Não rime nosso nome, pois, com aterrorizador.




(1) = 'Real’: oposição ideal. Mães de possibilidades afinal escancaradas, outra clássica dicotomia.
Consta que é de sangue esse hegemónico ridículo…É o que inspira a e é inspirado pela emoção terror.

18.5.04

--------------------Interposição De(*)gosto--------------------


1)

Afundado num banco por sinal não dos mais confortáveis, o estratega procura retemperar-se e dá consigo a cismar como o diabo; deverá alguém dizer-lhe alguma coisa, estando o banco situado numa rua de amplo movimento humano? Poderá algum transeunte comunicar com o esfíngico personagem, será a abstracção deste impossibilitadora da própria difusão?
Um movimento frenético – o cisma é ocidental e o grito de ‘OH NÃO OUTRA VEZ’ gela a cidade. Quem é o estratega afinal?


2)
Conto mini conto ponto
Douto de um couto auto de um tonto
Primitivo Ivo Eva Primitivo Ivo Eva Primitivo Ivo Eva Primitivo Ivo Primeva


3)
Não era ou pelo menos não parecia ser apenas outra forma de mortificação.


4)
Gosto de soltar as pontas soltas
Quanto mais soltas soltares soltarás sabê-lo-ás



5) AUTIST.O.K. is Austisticthyostega Order Kaos


6)
Gosto de dizer label
Gosto de me lembrar de o dizer como se de português se tratasse para rimar com a Babel da dispersão linguística e de, contra intrínsecas expectativas, acrescentar-lhe um acento para chegar a sável, prestando enfim tributo ao Padre António Vieira pela elevação dos peixes a veículo metafórico primeiro.


7)
Gosto de achar que quanto mais acho mais perco mais acho mais perco e de me enredar por palavras assim sem rédeas – ao fim e ao cabo, se elas existissem mais uma linha eu cortava-as com uma faca de madeira como a que em minha casa existe para cortar marmelada.


8)
Gosto de muitas coisas, confesso! Gosto nomeadamente de pensar nestes gostares enquanto resposta a um inquérito ‘gosto não gosto um dia uma noite’ como o DNA tem ou teve em tempos e a Grande Reportagem vai tendo na última página: ‘nossa!’, como são engraçados e reveladores!


9)
Ah, chega de tanto gostar de gostar de gostar.


10)
Só mais uma coisa: já reparaste que gostar de gostar de gostar de gostar dá degustar ou pelo menos pode dar?



--------------------Interposição Degosto--------------------

(título, o fim marca o início)

* efectivamente um espaço possível de ser ocupado por um exemplar da letra ésse.


--------------------Interposição De(*)gosto--------------------

(título, o asterisco marca a alteridade)

11.5.04

Up Above the Sea & Coming and Going on Easy Terms

Up Above the Sea

the sun came up
up above the sea
the streaming clouds
tore into my tranquility

out my window
I could see
a bird drop down
on the branches of my apple tree

everyday the bluebird comes down
and stares at me for hours
can’t figure out if he brings me luck
or if he’s trying to tear me down

I bought a rifle
with a bushnell scope
knowing the answer would be
to see if he’s calm or frightful

the sun rose up
over the sea
I staked out and waited
like so many gunmen before me

everyday the bluebird comes down
and stares at me for hours
can’t figure out if he brings me luck
or if he’s trying to tear me down

he saw my gun, he stared
right into my eyes, I fired
his body exploded
and feathers fell all over my lawn



____________-----__

Coming and Going on Easy Terms

window seats on bullet trains
smear land into sky
fear and sorrow coalesce

now I’m trying to find that quiet place
where living is breathing
not knowing is understanding
coming is going
but my heart just beats faster and faster

they asked for me to come
and identify my son
but my son is alive

the life that whispered in my ear
is gone gone gone
window seats, commuter trains
send me headlong

trying to find that quiet place
where living is breathing
not knowing is understanding
coming is going
but my heart just beats faster and faster

they asked for me to come
and identify my son
but my son is alive
in maharishi oblivion

the love that counted back
from ten is gone gone gone
fear and sorrow coalesce

now I’m trying to find that quiet place
where living is breathing
not knowing is understanding
coming is going
but my heart just beats faster

when I got down to the morgue
they pulled back the slab
it wasn’t my son
I wasn’t his dad

they covered him up
I smiled I smiled
the past is cities from a train

now I’m trying to find that quiet place
where living is breathing
not knowing is understanding
coming is going
but my heart just beats faster.


---John Vanderslice (acabado=começado de conhecer e citar, acabado de contactar via mail)---


Cellar Door
(january 20, 2004)

10.5.04

Treze

Regresso a casa após as três primeiras noites do liminar período 'Queima das Fitas' e, retomada a análise envolvente mas longe de formulada, tenho pelo menos 2 dias (simbólica e precisamente aqueles que a faculdade oferece em prol das circunstâncias queimais) para recuperar algum do algum trabalho em curso.

Naturalmente sem sono, decido ver um filme - talvez já não visse um há um par de semanas (quando é que começa a ser alarmante?) - e eis que "Thirteen" me apresenta a notável representação de um certo espectáculo emocional americano, a tragédia da "inocência perdida" nos transviados caminhos dos transviados consumos. A leitura apresentada, claro, é oca, centrada que está nas superfícies dos referidos consumos. A performance, porém, é irrepreensível e incrível sempre é assistir a tão incorporadas personificações. São pessoas, enfim, mas enquanto personagens-tipo-personagens-tipo.

E o que seria a 'Queima das Fitas' conimbricense variante guião...Entusiasmado, cavalgando a crista de uma onda de analogias, concebo um grande plano composto por treze recortes animados, treze figuras perdidas e encontradas: mãos à obra!

1.5.04

Zdzislaw Beksinki

Ás tantas, um dos utilizadores do "ind!ous indie life" - 'canal' do Direct Connect (programa peer-to-peer, partilha e veiculação de conteúdos) que tenho frequentado no último mês aos fins-de-semana - cuja lista de ficheiros espreitei ontem à noite tinha uma pasta intitulada arte e um nome nunca antes por mim visto. Vejo duas imagens, à cautela, não vá o diabo tecer um leque muito mau de representações e...encantado, porém!


Descubro Zdzislaw Beksinki e de sua página oficial afirmo ser ela própria produtora de encantamento (http://www.beksinski.pl )...

Eis, nos meus termos, O chão que Ele pisa:



tytuł: TN
rok: 1985
technika: olej na płycie pilśniowej
wymiary: 98,5 x 132 cm
kod obrazu: DG-011

Perdido na fonte de ser e saber não ter passado de um trono - o imponente e desarmante palheiro



Perdido na fonte de ser e saber não ter passado

De Aquiles o calcanhar que me impede de lançar-me além
O limbo limiar fronteira a noção de bem
Sabê-la não sabê-la connosco e com ninguém
Sussurro de poder já que não tem
Não há
Três vezes pah
Oh meu / Camarada colega amigo o que quer que diga ou possa dizer:

Será Barrabás
Quem de ora jaz

- Finalmente -

O repouso atestado de sanidade
A-parecer sendo consciente em verdade.

Sem escoras
Nada posso ser
Guess what?

Brandão, Raul
Quem disse paul
Que me enlouqueceu
Do dia o bréu a continência
Afinal suposta inclemência
Composta (mil carros de paciência)
Da antiga
(Reclamo a estúpida e pobre cantiga)..

Carreiro Aceiro Aceso Braseiro
Um dia - tantas cores - porque há-de ser foleiro
Um grito entre pares porque torna estrangeiro
Quem toca o absurdo e o diz é mensageiro
De um trono - o imponente e desarmante palheiro.