6.7.04

Raiva de Raivas

Nunca mais quero ver aquelas bolachas (logo as raivas que há tanto tempo procurava e finalmente havia adquirido numa pastelaria de entardeceres comuns) à minha frente, exclamou visivelmente desnorteada. Os olhos de súbito vítreos sugeriam um imenso reduto de dor, mas nada consegui acrescentar, porque nada me parecia a propósito, nada dispunha de sentido naquele segundo em que se me pedia uma reacção manifesta e não a aburguesada latência do exercício da reflexão mental. Desatou num choro convulso (esse universal mecanismo de dissipação energética, acrescenta alguém a meio tom da tribuna existencial) e desfaleceu sem mim, entretecido a ruminar considerações sobre o carácter insultuoso de apelidar raivas de bolachas.
Permaneci latente e a passagem do tempo perdeu a forma maquinal, a merda do medo de representar toldou-me a íntegra dos sentidos da materialidade...Se tudo se me afigurava claro enquanto peça conceptual noutro plano decorrente, a impossibilidade do imediato, qual estanque definição, ditou que nunca mais nos víssemos.


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