30.6.04

Preguiça falecida à beira de uma pateira de excessiva coerência


A racionalidade prática é - não nos engasgue - uma fantasmática
Metáfora desprovida de belezas de cortar respirações.
Sempre que me sinto deprimido, sabe-me até ao tutano proferir-lhe um louvor:
Acreditar que na verdade desagravo um nada que seja, sendo amor num cinto fivelado de sobeja.


29.6.04

O que sinto quando caminho até Maya

Fitas de prata sobrevoando um espaço de defumação
Anunciam a chegada de um messias relativo.
Um ruído persistindo na escuridão, também ela relativa,
Faz deste motivo o mais absoluto quadro desta vida.
Passo a explicar: tendo fixado residência num posto de contemplação
Eis-me quase estendido, à força de olhar acometido.
Dura a prova (Sê-de ova num oceano de peixes maduros
Quando tudo desabar erguer-te será inspirar de novo) pelo sentido colectivo travada
É como se, de repente, uma enxada te caísse - memorável o estrépito -
E uma porta se abrisse para um campo infinito.
Simples, de facto, tudo parece claro até à contradição primeira.
Qual quê, então as sementes, as peneiras, os arados
A perda das estribeiras em fardos equivocados,
A colheita, o suor da intempérie pode em escorreita letra
Ilustrar aquela mesma mentira abjecta?
Tome-se a crença, por exemplo, sem querer ser pedagogo
De pinça armado para destrinçar o acesso ao Todo.
Transpira ou não a abstracção de um inclemente astro?
Maya ilusão, intuição sem rasto.

28.6.04

Quatro sentidos para um poema




Invocação

Olhada de longe
A vila fonte serpenteia por entre vales
Despido o monge
Do hábito o rio quer mesmo que fales:
Fotografa o instante como um mantra
Torna trovoadas paz
Conquista-se o que se canta pelo bem que faz...

Objectividade

Em suma a consciência dita sem ditar
(Ditado é coisa tida por lugar passado)
Se o xaile sobre os ombros e aqueles ditongos
Nasalados caminham no ouvinte até ao fim de si;
Bem mais do que evidente é se ninguém se ri.


Subjectividade

Penas tidas ou mantidas não podem ser alegações
Numa tribuna insinuada por montes e montes
Quantas as emoções dedicadas a parir pontes
Dissipadas, as humidades das monções mais entranhadas.

Evocação

Paciência, assinale-se portanto e sem quebranto
O nome do visado não será mostrado.
Como se vê, na inconsequência do sigilo
A ausência de um "vacilo" conjugado.

Espera. Um tempo ainda para parar
Na expectativa, qual a próxima figura de estilo de saída?
Quem disse qualquer coisa de primeiras pedras
Dizia bispos igrejas primevas?

De seda pura tocada a palavra
Numa mão de saber a cimitarra
Empunhada é mais que tudo só uma pergunta

Pelo apelo incontrolável
A última braçada realmente dada deixa-nos
Mais longe ou até nos junta?





26.6.04

Especular

É como um grande fosso com laivos de fossa
Que apenas de olhar produz grande mossa:
Assim e agora, revelam-se-me numa pubalgia em directo
Requintes de malvadez; esmagam-me como um insecto
Sem quaisquer preces ou morais, religiões outras e tais
Afinidades relegadas para um ponto especial.
Pois, a mim só me ocorre dizer ser anormal
Toda esta verborreia servir um propósito animal...
A saber, a sanidade rimando com diarreia de verdade.
Convenhamos. Um apelido escatológico por si só é tão pueril
Como um barril sem pólvora ou um Abril com águas mil
Gaseificadas, engarrafadas sem rótulo (oh que vil torpeza)
Prontas com certeza para servir à tua mesa de descrentes.
Mostra, mostra teus maravilhosos dentes que invejo
Num daqueles sorrisos que abarcam o Tejo
Só para que um dia que seja alguém que nos veja especule.
Então e enfim, um novo chá ebulirá.

24.6.04

So be So!


So is
So be it another clay
An unknown artist of reproduction
In front of a self-simplicity
Came out - with kind - as an injection than re-conquest the satisfaction
Of...

So is
So be it, why such an easy word
Like mecanicism(?)leads to beyond infinity
Not to match a deal or two
Just - if closed - endarkned you
Lord, the entire Trinity won't solve it:

So is
So be So!
Deitado de lado numa manta de farrapos
Numa cama habitada por ausências de memória
Encontro e realizo uma metragem de desconhecida métrica
Afugentada essa outra tétrica ventura
Descura-da-a-lição como uma jura qual canção-veneno
O regular não é negado num mundo pequeno
Comportado afinal, categoria, género
De definição ou pipetada solução d'efémero.

22.6.04

Como cada interjeição é um ponto de exclamação!


Como um cavalo enrubescido
Pelo sangue feito névoa de outro tempo,
Persigo - somo e sigo - ensandecido
Sob a sombra de uma ideia de rebento...
Ai que os arquétipos se reservam o direito
A qualquer instante o intento está desfeito
Ou nada e o inverso do vazio conspirando no meu leito!

Como um estalo retorcido
Preconceito pelo leite de biberon o teu sustento
Contigo - somo e sigo - destemido
Sobre a luz de um veraz renascimento...
Oh que o que ascende não pede nenhum respeito
Antes algo lancinante laminado diamante noutro peito
Energia, mais ou menos meio dia esgotado - entropia - pé direito!

Como um remate desferido
Num campo a céu aberto mediado o provento
Entre os postes bola golo directo ou diferido
Sentes! Sabes! Velha história mito de nação e seu unguento...
Hei, a corda? Longe de atada à mente ou ao peito
Pode poder desaparecer com jeito
De quem embarga a voz: perfeito!

19.6.04

Dependências

A propósito de uma tão abrangente designação-qualificação em título avançada, a categoria cinematográfica anime. Enfim, defronte do computador e apesar do desfavorável horizonte temporal (que uma pessoa vai-se apercebendo de certos custos sociais no que a derivas nocturnas de recreação e recriação cultural diz respeito), a opção ver filme quer ser, como dizê-lo sem redundâncias esquecido, opção. Tudo isto porque ontem, o veiculador Hayao Miyazaki, na sua terceira longa-metragem que visiono [1988:Tonari no Totoro (My Neighbor Totoro)] se confirmou em mim enquanto dependência.

Assim, ainda que um hoje ao agridoce clássico de mim estilo diletante tenha protelado (curiosa etimologia latina equivalidada via dicionário a "impelir com o aguilhão") determinadas realizações escolares em falta há demasiado tempo, não só um corpo mas uma alma e um espírito clamam pela animação do mago (realizador) japonês. Compreendo, então e afirmo-a;

A opção, de volta, ganha nome e dizê-lo, não sendo preciso, implica-me neste ocular sorriso: Tenkuu no Shiro Rapyuta (Laputa: The Castle in the Sky), emanação de 1986.

Anim(a)e, dependência primeira aquela que é formulada para nova implicação. A cada incursão, supera-se a invocação pela in-vocação da superação.

Pedem-se umas linhas mais, mas não vírgula e ponto e vírgula admito.

Já que não pode ser já por questões de homeostasia, aceita pois este Até Amanhã, promessa de entrevisão.


"P.S. para um atrevimento" - De que outro modo é melhor o que fica por dizer?

"P.S. II" - P.S. quer dizer pergunta séria, não é?

"P.S. III" - Desculpa o incómodo, mas será que se me rir às gargalhadas terei uma gárgula debaixo da cama quando a ela voltar? É que me disseram um dia não haver duas sem três a fim de a excepção confirmar a regra...

9.6.04

Surreal Stress Assassin - O meu computador

Assim vou no assim vai meu computador, para o mundo desnudado:


(1º resultado de uma pesquisa google de imagens subordinada ao 'surreal stress'...Curvo-me perante a acutilância do motor de busca que me leva a www.adventistreview.org!)..Com efeito, dito sem ponta de ironia, may God bless America!


Da imagem para a palavra, no Word Gananath Obeyesekere e um dedo inquisidor mascarado de denúncia de um dedo inquisidor constitui-se como mote para um documento de texto potencial síntese crítica a apresentar na escola.

Da palavra para a música, via Winamp os Stress Assassin pautam o ritmo narrativo.

Em estreia, como não podia deixar de ser (que amargo seria este post sem uma estreia!), #surrealismo por mIRCianas águas [assim reza seu 1º tópico: 'Não, nÃo é sobre arte... e os pseudo-intelectuais não são bem-vindos! É apenas um canal... SURREAL!! (Sijlyarvs)'].

Num pirata registo, bradarão muitas virgens ofendidas, o DC++ permite-me a partilha-comunicação de texto, som, ví­deo e imagem: a entrar, Trigun, anime japonês (2000) - episódio 1; indie mp3 álbum 'Harmacy' (1996) dos Sebadoh; filme 'Det Sjunde Inseglet' (The Seventh Seal), Ingmar Bergman colheita de 1957;
a sair: filmes The Green Mile (1999) e Shrek (2001); trance álbum 'B.P.Empire' dos Infected Mushroom.

Finalmente, fecho (r)e-abertura deste cíclico instrumento, a Web:Ignoto Ego - este tempo que o Outro corre.

8.6.04

Rosas de Pedra




Ouço Rosas de Pedra e, efectivamente, ia a dizer qualquer coisa que, porém, logo se escapou qual colega a jogar à apanhada.

Assim, indo a dizer qualquer coisa especado estou por descobrir num par de carne e osso uma inversão-meteoricidade de luz; faço pois como que uma figurinha de urso e por isso petrifico. Deixo de ver, de tocar, de degustar e de cheirar. Ouço apenas as rosas que, como eu, de pedra são feitas.

1.6.04

A dança cantada de luz das borboletas de intensos tons castanhos

Numa semi-penumbra dançavam borboletas escuras, intensos tons castanhos como se para transmitir inequivocamente uma mensagem. Parei a contemplá-las e o tempo passou e a noite tornou-se total. Não me conseguia mexer, sentia-me petrificado. Continuava a ver claramente as estranhas borboletas entretanto congregadas à minha volta mas a páginas tantas, porém, esqueci-me de questionar a veracidade da cena. Então, Oh erro fatal, a queda na(o) real.

As borboletas escuras desvanecem-se (ou engrandecem-se) num feixe vertical de luz. Devido à cuidada estratégica disposição, primando sempre pela anestesiante presença - círculo protegido pelos seus próprios extraordinários poderes - estou agora rodeado de feixes luminosos que percepciono como dourados. Constato, com uma acuidade inédita para os meus padrões, que são 21 e ei-los, rostos humanos tomando a palavra:


*
* (a tanga)

1 Acção de revolta iniciada
2 Por ti entreposta e definida
3 Acção pela qual a tua vida
4 Encontra mais um tudo e mais um nada.


* (a interposição de profundis)

5 Nós somos a voz dos pregadores
6 Que a história das raízes não aflora
7 Nós vimos da Ilha dos Amores
8 Directamente teus o aqui e o agora.


* (o eterno absurdo do sentimento de posse)

9 Não penses todavia que possuis todos os dias
10 Ou os sonhos por dizer que realmente existias
11 Pois perenes ocorrências contradizem-se de facto
12 E portanto equivalem-se a uma marca de tabaco.


* (meu insuportável perfume semântico)

13 Se a semântica te interessa e te afaga nas insónias
14 É mais um a-fuga-mento que criaste nas colónias
15 Aquosas ostentadas como cheiro verdadeiro
16 Todo o outro consideras - de visco os teus lábios - estrangeiro.


* (alento = 20 valores, nada melhor do que a escala da escola para completar o que é, afinal, uma tanga de profundis absurdamente insuportáveis)

17 De nomes és feito e nomes fazes
18 Palavras de vento ou tenazes tenazes
19 Toma pois o que te aprouver oh venerando ouvinte
20 O teu respigar é de “alento vinte”;


* (a trégua final enquanto fórmula ideal)

21 Paz no fim da forma do geómetra divino.

*

Livre de novo, ascendendo do real, retomada a policromia da película. É noite sim, mas são já candeeiros, caixotes do lixo, bancos de jardim e casas ao largo de onde me encontro. As borboletas de luz maximamente concretas porque maximamente abstractas comunicaram comigo e partiram, entre a semi-penumbra primordial e o momento presente ter-se-á expirado talvez uma hora e meia. É tempo de tornar ao caminho.