29.6.04

O que sinto quando caminho até Maya

Fitas de prata sobrevoando um espaço de defumação
Anunciam a chegada de um messias relativo.
Um ruído persistindo na escuridão, também ela relativa,
Faz deste motivo o mais absoluto quadro desta vida.
Passo a explicar: tendo fixado residência num posto de contemplação
Eis-me quase estendido, à força de olhar acometido.
Dura a prova (Sê-de ova num oceano de peixes maduros
Quando tudo desabar erguer-te será inspirar de novo) pelo sentido colectivo travada
É como se, de repente, uma enxada te caísse - memorável o estrépito -
E uma porta se abrisse para um campo infinito.
Simples, de facto, tudo parece claro até à contradição primeira.
Qual quê, então as sementes, as peneiras, os arados
A perda das estribeiras em fardos equivocados,
A colheita, o suor da intempérie pode em escorreita letra
Ilustrar aquela mesma mentira abjecta?
Tome-se a crença, por exemplo, sem querer ser pedagogo
De pinça armado para destrinçar o acesso ao Todo.
Transpira ou não a abstracção de um inclemente astro?
Maya ilusão, intuição sem rasto.

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